Hoje em dia, poucas siglas são mais relevantes no mundo corporativo que as três letras que compõem: ESG. A importância é tamanha que até mesmo campanhas políticas utilizam esse conceito para nortear programas de governo.
Em inglês, ESG significa Environment, Social and Governance e diz respeito aos esforços relacionados à proteção ambiental, social e de práticas de governança dentro de corporações, que são identificados e medidos em critérios objetivos.
Especialmente no exterior, mas cada vez mais no Brasil também, esses aspectos norteiam tanto investidores quanto consumidores e eventuais parceiros de negócios no momento de decidir se associar a uma corporação ou não.
Há muito tempo, as preocupações ambientais têm impactado diretamente nas decisões tomadas por consumidores, governos e as próprias empresas, cientes de que questionamentos são realizados em caso contrário.
Assim, surgiu o greenwashing, que, em inglês, significa falsear a imagem de uma empresa dando a impressão de que há preocupação ambiental, que são tomadas iniciativas sustentáveis e/ou que os negócios que são realizados não impactam o meio ambiente.
Na esfera social, também tornou-se uma preocupação garantir que houvesse inclusão nas empresas, garantindo que um usuário de prótese auditiva digital não fosse desconsiderado em uma seleção por ser PCD.
Por isso, passou a ser essencial o acompanhamento objetivo, pautado em pilares claros e requisitos, para garantir a veracidade das informações divulgadas por empresas e governos.
Essa preocupação não é apenas para que o consumidor possa se orientar de forma mais clara e garantida, mas tornou-se um negócio extremamente lucrativo, que, em dados de 2020, movimentou mais de US$ 30 trilhões em ativos sob gestão de fundos ESG.
Esses números dizem respeito tanto a fundos que focam em investimentos sustentáveis quanto também que acompanham empresas que têm seus critérios ESG acompanhados e que se encontram bem posicionadas nesses aspectos.
Assim, se a preocupação no Brasil é crescente, lá fora, é já consolidada a necessidade de uma empresa estar bem posicionada na agenda ESG se pretende prosperar tanto junto ao público quanto para obter investimentos.
De onde vem o ESG e o que significa?
O termo ESG existe formalmente desde 2004, presente em um relatório realizado pelo Pacto Global, organização ligada à ONU.
O objetivo principal era poder criar um arcabouço de princípios para que empresas e organizações pudessem avançar em campos como igualdade entre gêneros, anticorrupção, meio ambiente, direitos humanos e ética do trabalho.
Assim, as preocupações originais, que eram voltadas principalmente para a sustentabilidade, que era o termo utilizado até aquele momento, se expandiram para abarcar também aspectos sociais e de governança.
Em relação aos aspectos sociais, os pontos observados são, principalmente, capital humano, a responsabilidade do produto (se é seguro, se a matéria prima utilizada vem de extração ética, entre outros) e oportunidades sociais.
Assim, o fornecimento de uniformes profissionais para obras, garantindo a segurança dos trabalhadores, pode ser considerado um aspecto social a ser observado, confirmando que há preocupação da empresa com a saúde dos colaboradores.
Já a governança diz respeito a questões internas de gestão da empresa, tratando de aspectos como composição de conselho, pagamentos, responsabilização, compliance, práticas anticorrupção e ética de negócios.
Para que esses pontos sejam acompanhados e quantificados, é comum que companhias como a MSCI, uma consultoria provedora de diversos índices para investidores, realizem acompanhamentos e divulguem notas de empresas com base nos requisitos ESG.
Quais os principais indicadores ESG?
Para que sejam realizadas as medições no momento de analisar uma empresa sob o olhar ESG, é fundamental que sejam conhecidos os indicadores ESG principais de cada um de seus três pilares.
Assim, pode ser aplicado em todos os tipos de empresa, de qualquer porte e ramo, desde uma fornecedora de unidade de água gelada para injetoras até mesmo uma petrolífera multinacional.
A consultoria MSCI se pauta diretamente por uma divisão de 10 temas entre esses 3 pilares e, dentro desses temas, 37 problemas-chave ESG que devem ser analisados de forma mais próxima dentro do divulgado pela empresa. Entre esses temas, pode-se destacar:
- Mudança climática;
- Recursos naturais;
- Poluição e desperdício;
- Capital humano;
- Governança corporativa;
- Comportamento corporativo.
No Brasil, o conceito ainda não apresenta a mesma organização, uma vez que está mais desenvolvido no exterior, mas já é realidade que empresas listadas na Bolsa de Valores brasileira, a B3, devem fornecer informações para acompanhamento do ESG.
Assim, isso mostra que as informações ESG tornaram-se tão relevantes quanto a divulgação de balanços e demais dados, que por regulamentação empresas listadas têm obrigação de divulgar.
Mesmo quando se trata de empresas de menor porte, que não têm capital aberto, como uma oficina que faz cristalização de pintura, divulgar bons dados ESG, com acompanhamento de boas consultorias, pode ser importante para consumidores e clientes.
Esse é um ponto de suma relevância: o ESG não fica restrito a empresas de grande porte. Inclusive, os negócios de microempreendedores podem, desde o início da operação, demonstrar esse tipo de preocupação e encontrar um lugar no mercado assim.
Dicas para aplicar em uma empresa
Para aplicação em uma empresa ou negócio, seja qual for o porte, é essencial garantir que as iniciativas estejam alinhadas com preocupações e providências verdadeiras, que causem impacto na sociedade e que possam ser mantidas pela companhia.
Assim, a primeira dica é analisar toda a operação e observar quais pontos podem causar mais impacto se modificados. Se a embalagem de uma persiana de alumínio para quarto vendida pode ser de papel reciclável, não há porquê optar por plásticos.
Observar toda a cadeia e entender onde podem ser realizados ajustes é o primeiro passo, realizando de forma sustentável e que realmente cause impacto. Se o plástico é pouco usado no dia a dia, não é uma meta real estabelecer “redução de plásticos”, por exemplo.
Outra dica importante é criar uma cadeia de sustentabilidade em torno da companhia, garantindo que clientes possam ser impactos e tenham suas iniciativas facilitadas pela companhia, como oferecer lógica reversa.
Mesmo em um consultório psicopedagogia, é possível buscar impacto junto aos clientes e pacientes, oferecendo copos e canecas para beber água ao invés de copos de plástico, por exemplo.
Na terceira dica, voltada para o pilar de governança social, toda e qualquer empresa, seja qual for seu porte, pode garantir que sejam oferecidas oportunidades observando igualdade de gênero, raça, idade e possibilidades PCD, se a vaga comportar de fato.
Uma vez que haja a contratação, é imprescindível assegurar que sejam oferecidas as mesmas condições de salário, bônus e jornadas, zelando pela equidade entre os funcionários e uma boa observância da governança.
Garantir boas condições de trabalho é maior que oferecer boa estrutura no escritório, com ar condicionado e internet fixa empresarial, ou prover EPIs em atividades que fazem jus ao seu uso.
Corresponde, também, a criar ambiente saudável e estável para os colaboradores, no qual a transparência tem espaço e a equidade rege as relações, atendendo às necessidades e possibilidades de cada um.
Por fim, como quarta dica, pode-se lançar luz na governança corporativa, focando no pagamento adequado de impostos e cumprimento das funções que couberem à companhia, sem que haja espaço para má gestão, que burle regulamentos ou legislação.
Ainda que esse aspecto pareça mais ligado à empresas de porte maior, todo negócio deve estar atento para o bom cumprimento das obrigações e a garantia que há uma postura idônea por parte de todos os colaboradores, sem espaço para ações antiéticas.
Considerações finais
Muito mais do que uma nova moda, como alguns insistem em enxergar, o ESG veio para ficar e, hoje, rege a maioria dos investimentos lá fora. Dificilmente uma empresa terá êxito em crescer e conseguir bons investidores sem ter o cuidado devido com essas questões.
Para além do ponto de investimentos, garantir uma consonância com a agenda ESG faz com que os consumidores possam enxergar uma corporação de forma muito mais positiva, valorizando os esforços que são realizados.
Seja qual for o produto que o cliente visa adquirir, desde produtos de limpeza até mesmo um compressor bitzer parafuso, a escolha por empresas que demonstram preocupações ambientais e sociais tende a ser natural.
Essas iniciativas podem atrair mais clientes, que visem o consumo verde, voltado para preservação do meio ambiente e atenção ao social. Cada vez mais, as pessoas procuram consumir de forma sustentável e consciente.
Por isso, é fundamental que questões ESG pautem o cotidiano de todas as empresas, não somente pela importância que têm e que cresce a cada ano, mas também porque os concorrentes estão atentos a esses pontos. Esse texto foi originalmente desenvolvido pela equipe do blog Guia de Investimento, onde você pode encontrar centenas de conteúdos informativos sobre diversos segmentos.